quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Tempo de transição


A passagem do Fundamental I para o Fundamental II pode ser vista como muito mais que um marco no percurso acadêmico. Vamos aqui considerá-lo como rito de passagem importante na evolução do ciclo vital de cada um. Imagine uma mudança que prevê que o corpo ganhe entre 20 e 30 centímetros e 30 quilos em curto espaço de tempo. Consideremos as mudanças físicas que isso traz, a inundação de hormônios, a grande reestruturação no cérebro e na mente que atinge o pensamento formal. Isso dá à pessoa a oportunidade de racionar sobre hipóteses e tirar conclusões a partir delas. Entretanto, para o adolescente pode ser mais fácil encontrar soluções para os problemas da humanidade do que resolver as complicações do seu cotidiano escolar.
A organização de espaço e tempo é um processo que se dá com turbulências, com idas e vindas, muitas vezes provocando perplexidade e confusão. O adolescente lida com três questões relativas ao tempo. Em primeiro lugar está numa fase de despedida da infância ,deixando para trás o corpo e as memória de criança. Estas perdas podem trazer medo e ansiedade fazendo-o resistir ao crescimento. Em segundo lugar há uma demanda externa de aceleração dizendo-lhe “vamos lá, anota aí, 3 provas semana que vem , não pode deixar para estudar depois senão vai acumular, você tem que se organizar”. Este sempre foi um dos maiores desafios dos adolescentes ao entrar no Fundamental II: organizar-se no tempo e no espaço – gerenciar sua agenda - realizar de tarefas e compromissos ao longo do tempo. Para isso é preciso amadurecimento: saber esperar, abrir mão de desejos imediatos para fazer o que é prioritário.
Ao mesmo tempo, para complicar este cenário, vivemos no tempo da virtualidade em que tudo é ao-mesmo-tempo-agora e a característica da era virtual é que tudo é presente, o mundo está na ponta dos dedos e o imediatismo prevalece. Paradoxalmente,justamente no período histórico de maior aceleração do tempo, adolescentes precisam de um tempo. Tempo para acomodar todas esta instâncias: o tempo subjetivo, o tempo da realidade concreta da cultura (representadas pelas demandas da escola) e tempo da era virtual.
É por isso que acreditamos que a entrada no Fundamental II merece ser vista como uma fase de importante transição, em que adolescentes precisam de apoio, de um olhar cuidadoso a respeito dos desafios que enfrentam e de interlocução para processar e refletir sobre o seu processo de amadurecimento.
Trabalhando com grupos de adolescentes em parceria com famílias e escolas, temos visto o quanto vale a pena apostar em estratégias que os ajudem nesta passagem.
Por Beth Musikman* e Erica Cavour**
Coordenadoras do Temas e Metas – programa de orientação de estudos para grupos de adolescentes
*Pedagoga, psicopedagoga e terapeuta familiar sistêmica
** Fonoaudióloga, especista em Psicologia Formativa, terapeuta familiar sistêmica