sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Para gostar de estudar

Em muitas famílias, a palavra estudar rima com brigar, reclamar, estressar. Alunos com dificuldades nos estudos vão deixando a obrigação para depois e quando fim do ano se aproxima é sempre a mesma coisa: diante de boletins vermelhos, os pais tentam estudar junto com os filhos, contratam professores particulares e todos ficam com o nível de ansiedade bastante elevado. Será mesmo que tem que ser assim? Será mesmo que o mundo é dividido entre bons e maus alunos? Gente com talento para os estudos e gente que realmente não nasceu para os livros? Érica Cavour, fonoaudióloga, com formação em psicologia formativa e terapia de família, aposta que não e coordena um trabalho que promete mudar o rumo dessa história.

“Aparentemente existem pessoas que gostam mais de estudar do que outras. Mas no fundo, todo mundo se interessa por conhecer coisas novas. Afinal, tudo na vida é aprendido. Jovens com dificuldade nos estudos têm o direito de perceber que também podem aprender muitas coisas interessantes na escola”, diz Érica. Foi pensando neste público que nasceu o projeto Temas e Metas, uma metodologia criada para estimular o auto-conhecimento, levando em conta a história familiar dos adolescentes e o momento de vida deles.

O trabalho é feito em grupos de X jovens, com idades a partir de doze anos. São realizados oito encontros, uma vez por semana. Antes da dinâmica começar, são feitas entrevistas individuais para levantar informações fundamentais para conhecer os adolescentes: o que mais gostam de fazer, que lugares costumam frequentar, como é a personalidade de cada um, qual é o papel deles em família, como é a história familiar e como está a vida deles hoje. “Assim, vamos desenhando possibilidades de estudos, vendo se eles têm boa memória visual ou auditiva, se são retraídos ou ousados. A ideia é explorar o que cada um tem de melhor, mostrando que eles podem criar seus próprios métodos de estudo”, conta Érica, que também costuma ensinar estratégias para elaboração de resumos, além de técnicas de memorização.

Em grupo, os jovens jogam, trocam experiências e o mais importante: são induzidos a repensar suas posturas diante da vida. “Como o grupo daqui não é o mesmo da escola, eles não se sentem pressionados a desempenhar papéis que costumar ter diante dos amigos de lá. Por exemplo: muitas vezes, um aluno que não vai bem nos estudos adota uma postura de bagunceiro. Aqui estão todos de guarda baixa. Todos têm a oportunidade de ser quem querem realmente ser”, diz Érica.

O Temas e Metas começou em meados do ano passado e já coleciona boas histórias, como a do menino FULANO......, de 13 anos, que costumava ficar muito nervoso antes das provas e sempre tinha desempenho abaixo do esperado. Depois das oito sessões do Temas e Metas, trabalhando para gerenciar sua ansiedade e sendo estimulado a apostar em sua autonomia, tudo mudou. “Eu sei que mesmo que eu me esqueça de parte da matéria, tenho inteligência e posso responder às questões com o conhecimento que tenho”, diz FULANO.

Para Luiza, 13 anos, participar deste trabalho teve uma importância maior do que simplesmente conseguir passar de ano sem sufoco. “Aprendi a gostar de estudar pelas razões certas e não apenas para me dar bem nas provas ou agradar à minha mãe. Vi como é divertido aumentar meu conhecimento sobre as coisas. Isso hoje tem uma verdadeira importância para mim”, diz Luiza.